Tecnologia

‘Tecnologia salvará futuro do emprego no Grande ABC’

Ainda que a indústria automotiva estanque o processo de fuga do Grande ABC, o futuro do trabalho não está nas corporações gigantescas, como Ford ou Toyota. Empresas pequenas e de alta tecnologia, as startups, é que serão responsáveis pelo pagamento dos melhores salários nas sete cidades. A tese é do secretário de Desenvolvimento e Geração de Emprego de Santo André, Evandro Banzato: “Não existem mais as plantas que empregam muitos funcionários”. Por isso, ele já começou a se mexer para atender à demanda, implantando programa com noções de empreendedorismo nas escolas municipais.

Como se construiu essa troca de experiências?

Logo no primeiro ano de gestão propusemos fazer um grande encontro com os empresários da cidade, chamado de 1º Meeting Empresarial. Que, não à toa, tinha o título de ””Novos Caminhos, Novas Oportunidades””. A ideia foi dizer à população que existiam inúmeras oportunidades que podiam ser aproveitadas. E ano a ano estamos reforçando este contato. Não só através do Meeting; temos todo um leque de ações que percorrem a cidade dialogando com o empreendedor. Damos a devida atenção de P a P, do porteiro ao presidente. Cada um deles vai ter alguma coisa para nos ensinar. Para nos mostrar onde é que estão os desafios, as oportunidades, os problemas.

E quais as principais demandas que foram identificadas?

Ouvimos dos empresários queelesnunca tiveram a oportunidade de dialogar, de questionar, de sugerir, de trocar ideias. A gente conseguiu aproximar esse empresariado das instituições de ensino, das entidades de classe. Dessa troca e desse diálogo surgiu, por exemplo, a ideia da plataforma Acto (que agiliza a obtenção de licenças públicas). Sempre escutamos que o processo era burocrático, moroso, complexo. E, veja, o fator tempo é primordial para quem empreende na construção civil e em boa parte das atividades empresariais. Pode fazer com que você lucre ou tenha prejuízo.

Quais entraves surgiram entre ouvir as demandas e colocá-las em prática?

No dia a dia utilizamos um método que passei a chamar de OPA. O, de observar. Observar é ouvir o que o mercado está dizendo. Onde estão aspotencialidades e os desafios? P, de planejar. Não se faz nada na vida sem planejamento. Em qualquer filme norte-americano, em algum momento, alguém vai perguntar: “What””s the plan?”. Qual é o plano? E o A, de agir. É preciso tomar decisões. Não fica bem falar isso, mas é preciso tirar a bunda da cadeira.

Santo André está agindo?

O Grande ABC dormiu por décadas no berço esplêndido, na esteira da indústria automobilística. “Ah, está tudo bem!” Tudo bem? Colhemos hoje resultados muito negativos. A Ford foi embora, a Toyota está indo. Isso tudo é muito ruim porque afeta toda a cadeia. A Toyota migrando afeta as indústrias da borracha, a Bridgestone, a Prometeon; a cadeia de bares, restaurantes, prestadores de serviços que estão no entorno. E aí pouco importa onde estão localizadas essas indústrias, em Santo André, São Bernardo ou em São Caetano. Precisamos valorizar o Grande ABC.

Com a crise na indústria automobilística, aonde está o futuro do emprego no Grande ABC?

Claro que sabemos que empregos ligados à indústria têm salários mais elevados. Mas as empresas mudaram. Já não existem mais as grandes plantas que empregam muitos funcionários, muito maquinário. Mas vamos a um exemplo prático. Um dos braços do Parque Tecnológico de Santo André é o Hub de Inovação. Por meio dele, nos aproximamos das grandes empresas dos setores econômicos estratégicos,de Santo André e do Grande ABC, e dizemos para que compartilhem conosco os desafios comuns à cadeia. A partir daí, compartilhamos esses desafios com as universidades, as startups, outras empresas e vamos atrás das soluções.

O sr. poderia dar uma exemplo prático de como esse compartilhamento funciona na geração de emprego?

Temos parceria com a Mercedes-Benz, que nos trouxe desafios ligados à eletrificação de veículos pesados. A equipe do Parque Tecnológico compartilhou então com as startups, as universidades, as instituições de ciência e tecnologia. Eis que aqui em Santo André dois alunos egressos da Etec Júlio de Mesquita identificaram que a resposta que a Mercedes procurava era parte do estudo que faziam na startup que estavam lançando. Estabelecido o diálogo, nossa equipe ajudou a Mercedes-Benz a captar, junto com a startup, recursos para pesquisa e inovação na ordem de R$ 1,5 milhão. E o que aconteceu? Essa pequena startup contratou neste ano 12 colaboradores. Então, qual é o futuro do emprego? Está em observar as demandas, o que vem acontecendo em todos os setores econômicos estratégicos e planejar ações.

Empregos na área tecnológica podem reequilibrar a massa salarial que se desidratou como fechamento de postos na indústria?

Não só pode como, em alguns casos, até supera. Aí temos um duplo desafio. Observamos que tem mercado, tanto brasileiro quanto internacional, demandando mão de obra qualificada ligada ao desenvolvimento tecnológico, ao desenvolvimento de software, de aplicativos. Quem vai operar os equipamentos mais modernos do mundo? O mundo precisa de gente para isso. Outro braço do Parque Tecnológico é o Programa CapacitaTech. São mais de 7.000 cursos gratuitos de capacitação em novas tecnologias, novas ferramentas e uma série de outros assuntos. Quem oferta esses cursos? Oracle, Microsoft, Google, AWS; tudo o que há de moderno no mundo está lá disponível. Aí temos um segundo desafio. Para que as pessoas possam fazer esses cursos, a nossa base educacional deveria ter sido primorosa. Fica claro que o Brasil tem um gargalo adicional: a educação básica deficiente. Há 480 mil vagas no setor de tecnologia para serem preenchidas até 2025.

Osr. cita um problema estrutural, o da educação. Existe diálogo interno entre a sua secretaria e a da Educação?

Lá no início da gestão, em 2017, a gente observou que o mercado iria demandar mão de obra estratégica e nós iríamos precisar de gente capacitada. Em um dos encontros com o Sebrae, foi-nos oferecido o programa JEP, que é o Jovens Empreendedores Primeiros Passos. É um programa desenvolvido em parceria com as prefeituras para a capacitação de professores da rede, que, então, ensinam empreendedorismo para as crianças da primeira à quinta série. O mundo inteiro ensina. E quando se fala em empreender, não é empreender para ganhar dinheiro; é empreender para a vida. O que você quer? Cuidar de tartarugas ou montar um unicórnio para ganhar US$ 1 bilhão? Não importa, o empreendedorismo dá as bases e ferramentas para que você programe e planeje o que quer da vida.

Houve tensão na implantação do programa?

Na cidade de Santo André não são todos que enxergam o empreendedorismo como um ensinamento libertador, que gera oportunidades. Foi bastante desafiador. Alguns questionaram que o programa não fazia parte da grade curricular e, por isso, não podia ser implementado. Lembro-me de, em uma conversa com o prefeito Paulo Serra, ter dito que se eu tivesse um único professor entre os 800 da rede disposto a se capacitar, já me daria por satisfeito. Alguma mudança, mesmo pequena, é melhor do que nenhuma. Ao fim, capacitamos todos eles.

Quanto tempo leva para que a cidade comece a sentir os efeitos desta política?

Israel, que é um país deste tamanhinho, é o que mais tem startups do mundo. Por quê? Porque está na cultura. Toda vez que se fala em mudar a cultura, dá trabalho. A gente começou. Esse é um processo contínuo. O jogo é infinito. A realidade do Grande ABC nos anos 1980 era uma; hoje é outra. O desafio da gestão pública é identificar, dentro dessa infinidade de desafios e oportunidades, qual caminho seguir. Como será daqui a 50 anos?

O que Santo André precisa fazer para acolher novos empreendimentos e negócios?

É uma visão que não pode e não deve se limitar a Santo André. É fundamental que a gente olhe para o Grande ABC. Costumo dizer que parte do meu trabalho diário é administrar vaidades, é fazer as pessoas entenderer que ninguém é melhor do que ninguém, que ninguém deve brilhar mais do que ninguém e que junta e conectada a sociedade consegue produzir e entregar muito mais. Não adianta a gente discutir a malha viária de Santo André se não dialogarmos com Mauá e São Bernardo. A mobilidade, a segurança, as enchentes e o transporte público de massas são os principais desafios regionais.

O Metrô…

Há quantos anos se fala da importância do Metrô no Grande ABC? A gente tem que lutar. Estamos em momento extremamente favorável. Olhe a nossa bancada de deputados federais e estaduais eleitos. Independentemente da coloração partidária de cada um deles, precisam trabalhar de maneira conjunta para ajudar a dar respostas aos problemas comuns da região.

Santo André está preparada para o futuro?

Peguemos a questão da telefonia 5G. Santo André se antecipou ao governo do Estado de São Paulo em três anos no que diz respeito à legislação de antenas. Nossa equipe, lá em 2018, já alertou que precisávamos discutir as novas tecnológicas que proporcionassem sermos uma cidade inteligente. Não consigo ser inteligente se não tenho infraestrutura de comunicação. Se não tivéssemos boa rede nem boa internet, por exemplo, não conseguiríamos implantar os semáforos inteligentes que implantamos.

 

 

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